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No Evangelho de São Lucas (Lc 21, 5-19), Nosso Senhor faz o seu famoso “sermão escatológico”; fala-nos o Mestre a respeito do fim dos tempos.
Também hoje, assim como na época de Cristo, esse tema desperta interesse geral.
Todos querem saber, afinal, “quando acontecerá” e “qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer”.
Os cristãos devem precaver-se, contudo, para não se deixarem levar por um espírito de curiosidade frívola acerca dessa matéria, transformando a sua fé em “futurologia” ou convertendo as próprias Escrituras Sagradas em instrumento para práticas adivinhatórias.
Essa definitivamente não é a lição que quer passar-nos Jesus ao tratar o fim dos tempos.
Que pretende ensinar-nos então o Senhor, quando menciona as terríveis coisas que estão por vir?
A primeira chave de leitura dessa passagem é a imitação de Cristo.
Os verdadeiros discípulos de Cristo conformarão suas vidas à do Mestre:
Serão “presos e perseguidos”, tal como Ele foi sequestrado e maltratado;
Serão “entregues às sinagogas e postos na prisão”, “levados diante de reis e governadores”, tal como Ele mesmo foi julgado pelas autoridades religiosas de seu tempo e “padeceu sob Pôncio Pilatos”;
Serão “entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos”, assim como Ele foi perseguido em Nazaré;
Alguns chegarão a sofrer a morte, e nisto se assemelharão ainda mais a Jesus, que foi injustamente crucificado.
“Todos vos odiarão por causa do meu nome”, em suma.
Com isso, fica patente que o caminho da Cruz não é exceção, mas a regra.
O testemunho da fé, significado na palavra de origem grega “martírio”, é a via ordinária por que se salvam os homens, sejam aqueles escolhidos para derramarem por causa de Cristo o seu sangue, sejam aqueles chamados a levarem com heroísmo uma vida consagrada à oração e à penitência.
A segunda chave de interpretação é o que dá sentido a tudo o que nos narra o Senhor neste Evangelho.
Mesmo experimentando o sofrimento inerente a esta vida, adverte o Cristo providente, “vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça”.
Numa interpretação fiel ao texto original, isso quer dizer que nada do que sofrermos será em vão; nada de tudo aquilo por que passarmos ficará sem a sua recompensa.
Assim se consumará, então, o nosso processo de configuração a Cristo: morrendo com Ele, também com Ele viveremos (cf. Rm 6, 8).
“É permanecendo firmes”, conclui Jesus, inspirando-nos confiança, “que ireis ganhar a vida!”
Como se dará isso, porém? Qual o segredo para permanecermos firmes e ganharmos, no termo desta vida, a recompensa eterna?
A resposta está na oração.
“Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo”, diz uma prece litúrgica.
A verdade de nossa condição é que somos fracos e pecadores; para sermos fortes e santos, precisamos comportar-nos realmente como “mendigos da graça de Deus”.
É Ele quem nos concederá, a cada dia, o “pão nosso” para sustento de nosso organismo espiritual, tornando-nos capazes de oferecer o amor que lhe é devido.
Não seremos santos — e até mesmo a nossa salvação corre grande risco —, se não rezarmos, e não rezarmos muito.
Muitas vezes, porém, o que nos falta para tomarmos de assalto a vida espiritual é justamente o “choque de realidade” de sabermos que esta existência é breve, que a morte chega para todos e que nos espera, do outro lado, uma eternidade ou de glória ou de tormentos.
Falta-nos a meditação sobre as “últimas coisas” — os Novíssimos, sobre os quais tanto insistiram os santos.
Para corrermos atrás do prejuízo, todavia, nem é preciso que tomemos em mãos uma “Preparação para a morte”, de Santo Afonso de Ligório, ou uma “A arte de morrer bem”, de São Roberto Belarmino — ainda que sejam obras muitíssimo recomendáveis.
Basta, para tanto, que pensemos um pouco nos infortúnios que subitamente advêm a tantos de nossos irmãos, ou nas mortes trágicas que com tanta frequência vemos relatadas em nossos jornais e noticiários televisivos.
Deus não nos fala só por palavras, mas também por acontecimentos: a todo momento Ele está a ensinar-nos que este mundo passa e que só no Céu, de fato, encontraremos nossa morada definitiva.
Tenhamos em mente duas sugestivas imagens.
Primeiro, a do caixão: para muitos de nós, será ele o marco de nosso fim, o fim dos nossos tempos.
Segundo, a da mulher grávida, com a qual Nosso Senhor comparou certa vez a situação de quem morre na graça:
“A mulher, quando vai dar à luz, fica angustiada, porque chegou a sua hora.
Mas depois que a criança nasceu, já não se lembra mais das dores, na alegria de um ser humano ter vindo ao mundo. Também vós agora sentis tristeza.
Mas eu vos verei novamente, e o vosso coração se alegrará, e ninguém poderá tirar a vossa alegria. Naquele dia, não me perguntareis mais nada” (Jo 16, 21-23).
Assim seja! Amém!
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Fonte: padrepauloricardo.org
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