.
Continuação: Reflexões da Sagrada Escritura: A volta do filho pródigo. (Parte I)
Aqui façamos também algumas reflexões: Eis o modelo do pecador penitente.
Em vez de se entregar a um louco desalento, tem confiança; mas a sua confiança em nada diminui a sua humildade.
“Levantar-me-ei”. Se é vergonhoso cair, é honroso levantar-se.
Mas aonde ireis, pobre rapaz? Quem quererá interessar-se pela vossa sorte?
“Irei para meu pai; enquanto me restar um pai, cuja ternura me é conhecida, resta-me um recurso seguro.
É verdade que levei muito longe a minha ingratidão para com ele;
Mas se eu fui um filho desnaturado, ele é sempre bom pai”.
E que lhe direis vós?
“Dir-lhe-ei: Pai, esta só palavra comoverá seu coração.
Se os soluços me impedirem de falar, as minhas lágrimas lhe falarão por mim;
Mas, se eu puder dominar a minha emoção confessar-lhe-ei todos os meus crimes.
Dir-lhe-ei: Pequei contra o Céu, testemunha das minhas desordens; mas pequei também contra vós, o melhor dos pais!”
“Já não sou digno de ser chamado teu filho”.
O filho fez justiça à bondade de seu pai, esperando que lhe perdoasse; e faz justiça a si mesmo, humilhando-se.
Não reclama as prerrogativas de filho, é indigno delas; basta-lhe ser admitido no número dos criados:
“Trata-me como a um dos teus diaristas”.
Finalmente não se limita a vãos desejos: o que resolveu, executa-o, e sem demora.
Disse: Levantar-me-ei e já está em pé; irei buscar a meu pai, e já deixou o vil rebanho, e se dirige para a casa paterna.
Quem esqueceu o seu destino eterno como filho de Deus, imite este modelo.
Humilhe-se primeiramente; a humildade aproximá-lo-á de Deus, quanto a soberba o afastou d’Ele.
A verdadeira penitência gera o desprezo de si.
Deus não resiste aos seus atrativos: Deus se inclina para o homem humilde.
Se o pecador se humilhar na sua presença, deve contar com a misericórdia divina.
Quanto mais indigno for de tão bom pai, tanto mais excitará a sua compaixão.
Perdoará o seu pecado, precisamente porque é grande:
“Por causa de teu nome, Senhor, me hás de perdoar o meu pecado, porque é grande” (Salmo XXIV, 11).
Caríssimos, Deus, Nosso Senhor e Pai, quis mostrar-nos o seu próprio coração na terceira parte desta parábola, assim como nas duas primeiras nos mostrou o nosso.
Teria o bom pai esquecido o seu filho? Não absolutamente!
Pelo contrário, pensava nele incessantemente.
Como o reconheceu logo, quando o viu no triste estado, a que o haviam reduzido o crime e a miséria?
Como não se indignou ao dar com os olhos nele?
Como pôde esquecer tão depressa todas as suas desordens, para só se lembrar da sua desgraça?
São segredos do amor paternal.
“Quando ele ainda estava longe, seu pai viu-o, ficou movido de misericórdia”.
Oh! que belo espetáculo tenho aqui para contemplar!
O pai não espera por seu filho: corre para ele, abraça-o, beija-o, cobre-o de carícias.
Este acolhimento tão terno e tão pouco merecido aumenta o arrependimento do culpado.
Quer fazer a humilde confissão do seu pecado; mas o pai interrompe-o, e diz aos criados:
“Ide buscar o melhor vestido para meu filho;
Metei-lhe um anel no dedo, e sapatos nos pés;
Preparai um festim, regalemo-nos;
E todos os que me querem bem, tomem parte na minha alegria: meu filho estava morto, e reviveu; tinha-o perdido, e achei-o”.
Pecador arrependido, não temas as exprobrações de Deus, que desejava tanto a tua conversão;
Restituir-te-á a sua amizade, e com ela todos os vossos direitos, todos os bens que tínheis perdido, ofendendo-O.
O filho mais velho, voltando do campo, queixa-se, e indigna-se.
Não, ó vós sempre fiéis pela graça, não sejais invejosos.
Ninguém vos tira o que tendes: os vossos direitos, os vossos merecimentos, o amor do vosso Deus.
Vosso irmão, de escravo torna-se rei, mas sem vos destronar a vós; enriquece-se, mas vós nada perdeis.
Convinha que houvesse alegria, porque o vosso irmão era morto, e reviveu.
A conversão de um pecador é motivo de alegria até para os Anjos do Céu!
Amém!
.
Fonte: fratresinunum.com
.
.
* * *
.
.
.
.
.