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Da condenação de Jesus e subida ao Calvário.
Pilatos, com medo de perder as boas graças de César, depois de haver declarado tantas vezes a inocência de Jesus, condenou-o finalmente a morrer crucificado.
Ó meu inocentíssimo Salvador, que delito cometestes para serdes condenado à morte? pergunta S. Bernardo, e responde:
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O vosso pecado é o vosso amor. O vosso pecado é o grande amor que nos tendes, é ele que mais do que Pilatos vos condena à morte.
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Lê-se a iníqua sentença. Jesus a escuta e todo resignado a aceita, submetendo-se à vontade do eterno Padre, que o quer ver morto e morto na cruz por nossos pecados:
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“Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte de cruz” (Fl 2,8).
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Ah, meu Jesus, vós aceitastes inteiramente inocente a morte por meu amor; eu, pecador, por vosso amor, aceito a morte quando e como vos aprouver.
Lida a sentença, precipitam-se com fúria sobre o inocente cordeiro, impõem-lhe novamente suas vestes e apresentam-lhe a cruz feita com duas toscas traves.
Jesus não espera que lha imponham, ele mesmo a abraça, beija-a e coloca-a sobre seus feridos ombros, dizendo:
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“Vem, minha querida cruz, há trinta anos que eu te busco; quero morrer por ti por amor de minhas ovelhas”.
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Ah, meu Jesus, que podíeis fazer ainda para obrigar-me a vos amar? Se um criado meu se tivesse oferecido unicamente a morrer por mim, teria conquistado todo o meu amor.
Como, pois, pude eu viver tanto tempo sem vos amar, sabendo que vós, meu sumo e único senhor, morrestes por mim? Eu vos amo, ó sumo bem, e, porque vos amo, arrependo-me de vos ter ofendido.
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Contempla o Salvador que vai morrer por ti
Os condenados deixam o tribunal e se dirigem para o lugar do suplício: entre eles se acha também o rei do céu com a cruz às costas:
“E carregando sua cruz se encaminhou para o lugar que se chama Calvário” (Jo 19,17).
Saí também vós do paraíso, ó serafins, e vinde acompanhar o vosso Senhor que sobre o Calvário para ser crucificado.
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Ó espetáculo! Um Deus que vai ser crucificado pelos homens! Minha alma,contempla o teu Salvador que vai morrer por ti.
Vê como está com a cabeça curvada, com os olhos trêmulos, todo coberto de feridas, escorrendo sangue com aquele feixe de espinhos na cabeça e aquele pesado madeiro sobre os ombros.
Ó Deus, com que dificuldade caminha ele, parecendo que vai expirar a cada passo que dá. Ó Cordeiro de Deus, aonde ides? Vou morrer por ti.
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Quando me vires morto, recorda-te do amor que te mostrei e ama-me.
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Ah, meu Redentor, como pude viver até agora esquecido do vosso amor? Ó pecados meus, vós haveis amargurado o coração de meu Senhor, esse coração que tanto me amou.
Ó meu Jesus, arrependo-me da injustiça que vos fiz, agradeço-vos a paciência que tendes tido comigo e vos amo: amo-vos com toda a minha alma e só a vós eu quero amar.
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Recordai-me sempre do amor que me consagrastes, para que eu nunca mais deixe de vos amar.
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“…tome a sua cruz todos os dias, e siga-me”.
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Jesus Cristo sobe o Calvário e nos convida a segui-lo.
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Sim, meu Senhor, vós, inocente, ides adiante com a vossa cruz; pois bem, caminhai, que eu não vos abandonarei.
Enviai-me a cruz que quiserdes, que eu a abraço e com ela quero acompanhar-vos até à morte.
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Quero morrer juntamente convosco, como vós morrestes por mim.
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Vós me mandais que eu vos ame e eu nada mais desejo senão amar-vos.
Meu Jesus, vós sois e sempre haveis de ser meu único amor. Ajudai-me a vos permanecer fiel. Maria, minha esperança, rogai a Deus por mim.
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Fonte: Do livro “Reflexões sobre a Paixão de Jesus Cristo, expostas às almas devotas” de Santo Afonso de Ligório.
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