Mons. de Ségur
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Poder-se-ia escrever um grande livro sobre isso. Eis as ideias principais que respondem, parece-me, mais diretamente a essa questão:
Nosso Senhor habita conosco na Eucaristia, primeiro, para continuar sobre a Terra, até o fim do mundo, obra de Sua Encarnação.
O Filho Eterno de Deus se fez homem para unir o Deus ao homem, o homem a Deus.
Ele se fez homem para dar Deus aos homens, para colocar Deus ao alcance dos homens.
Assim Ele foi chamado pelo Profeta: Emanuel, isto é, Deus conosco.
O que Deus fez outrora pelo ministério da Santíssima Virgem Maria, Ele faz todos os dias pelo ministério não menos admirável de Sua Igreja.
A Santíssima Virgem nos deu a Deus no menino Jesus;
A Santa Igreja continua a no-lo dar ao consagrá-lo sobre os altares e dando-nos o mesmo Jesus no Sacramento da Eucaristia.
É o mesmo milagre de bondade, de misericórdia e de amor.
Em segundo lugar, Nosso Senhor habita conosco sob esta forma visível e sensível de Seu Sacramento para ser Ele mesmo o centro de nossa vida.
Nós somos compostos de corpo e alma, e precisamos, por assim dizer, de um Deus ao mesmo tempo visível e invisível.
O Filho de Deus se fez homem, no tempo, a fim de satisfazer esta necessidade do coração humano:
Em Jesus, Deus-homem, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, encontramos o Deus que nos criou;
Um Deus eterno, infinito, onipotente, todo adorável, e ao mesmo tempo um Deus;
Que podemos ver com nossos olhos, ouvir com nossos ouvidos, tocar com nossas mãos;
Um Deus que fala a nossa linguagem, cujo coração é um coração de carne como o nosso;
Cuja mão se eleva para nos abençoar, cuja boca se abre para nos ensinar, cujos lábios sagrados nos dão o doce beijo do amor.
Ora, a Eucaristia continua este belo mistério na medida do possível:
O Santíssimo Sacramento é o centro visível da religião e do culto do bom Deus;
É Ele que perpetua sobre a Terra o papel da humanidade visível do Salvador;
É Ele que nos permite ver, aproximar, tocar e receber em nós mesmos o Deus que amamos e que vemos face-a-face no Céu.
A Santa Eucaristia é como a alma de nossas Igrejas, como o coração de nossa piedade.
O que torna os templos protestantes tão frios, tão vazios, é que Jesus Cristo não está lá.
Ao contrário, o que torna a religião católica tão viva é a presença de Seu Senhor e de seu grande rei sobre os altares.
Em nossas Igrejas, é à Eucaristia que tudo se refere;
E, se a Missa é o ato principal de toda religião, é porque a Missa produz e nos dá o Santíssimo Sacramento.
A presença de Deus vivo em nós
Em terceiro lugar, Nosso Senhor permanece dia e noite presente sobre os altares, a fim de receber as adorações do mundo.
O Santíssimo Sacramento é Jesus Cristo, e Jesus Cristo é o verdadeiro Deus vivo.
O altar é, sobre a Terra, o trono onde reside a majestade do Deus verdadeiro, o local onde Deus feito homem espera suas criaturas para receber suas homenagens e suas adorações.
É lá que quer ser buscado, achado, adorado.
É lá que o Céu se abre à Terra; é lá que Deus chama a todos os seus servos.
É ainda pela Presença Real da Eucaristia que Nosso Senhor Jesus Cristo revive incessantemente em nós a memória de tudo o que fez para nos salvar.
Instituindo o Santíssimo Sacramento, Ele disse a seus apóstolos, que foram os primeiros sacerdotes:
“E vós, todas as vezes que fizerdes o que vim fazer, fazei isto em memória de mim”.
Em memória de mim, isto é, em lembrança do amor infinito que desceu sobre a terra para vos trazer a salvação e a vida eterna;
Em memória de todos os meus mistérios, de todos os meus milagres, de todas as minhas palavras, de todos os meus sofrimentos;
Em memória do meu Nascimento em Belém, no abandono e pobreza;
Em memória de toda Minha infância perseguida, de minha vida oculta e obscura em Nazaré;
Em memória de toda minha vida pública e dolorosa Paixão que coroou meu sacrifício de 33 anos;
Em memória de minhas lágrimas e minha agonia, de minha condenação, de meus ultrajes, de minha sangrenta flagelação, de minha coroação de espinhos;
Em memória de minha crucificação em morte, de minha sepultura, de meus aniquilamentos;
Em memória de minha ressurreição triunfante e de minha ascensão aos Céus;
Enfim, em memória desta segunda vinda, na qual voltarei cheio de glória e de majestade;
Para cumprir o meu mistério, para vingar e glorificar a minha Igreja, para julgar os justos e os pecadores, os vivos e os mortos.
Eis que nos chama todos os dias Jesus, presente Ele mesmo no meio de nós na sua eucaristia.
No Natal, é Ele, o Menino Jesus, que está lá, diante de nós, que adoramos, que recebemos em comunhão;
Na Sexta-Feira Santa, é ainda Jesus, Jesus crucificado.
Na Páscoa é Jesus ressuscitado;
E assim por diante em todas as festas que compõe a liturgia da Igreja.
O Deus do Evangelho, o doce Jesus de Madalena e de Zaqueu, o Divino pregador do Sermão da Montanha e do Sermão da Ceia;
Está lá em pessoa presente e vivo, perto de nós.
Ó, como é bom meditar a seus pés o divino Evangelho, onde Ele gravou para nós todos os seus atos e palavras!
Assim, Nosso Senhor está no Santíssimo Sacramento para nos impedir de esquecê-lo;
E como um memorial perpétuo de Sua Encarnação, de Sua Redenção, e de Sua graça.
O abrigo de todos os corações
Uma outra razão que mantém assim nosso misericordiosíssimo Salvador no meio de nós é a necessidade que temos, que Ele conhece tão bem;
De um consolador, de um amigo íntimo, de um refúgio, de um médico, de um confidente em meio a todas as nossas penas e nossas dores.
Jesus, no Santíssimo Sacramento, é todo lá para nós; a Seus pés, vamos repousar todas as nossas fadigas.
Quando nosso coração estiver demasiado cheio, cheio de lágrimas, vamos chorar junto a Ele;
Quando os homens nos abandonam, quando sua maldade nos persegue e nos desencoraja, nós O temos lá, perto de nós, amigo fiel que nunca falha.
Assim devia estar escrito com letras de ouro, sobre todos os sacrários, o convite tão terno gravado nos Evangelhos:
“Vinde a mim vós todos que estais aflitos, e Eu vos aliviarei”.
O Santíssimo Sacramento é o abrigo de todos os corações;
A fonte na qual as almas, como belas pombinhas vêm matar a cede e se refrescar;
A casa da oração e do fervor; é uma expressão, o centro de tudo e da verdadeira vida do cristão na terra.
É o abrigo de Céu e da Terra: em Jesus, e só em Jesus, nós nos unimos àqueles que amamos na Terra e àqueles que se foram.
Unimo-nos sempre mais intimamente à Santíssima Virgem, aos Anjos, e aos Santos no Céu, e às almas santas no Purgatório;
Aproximando-nos de Jesus no Santíssimo Sacramento, e especialmente, recebendo-o na Comunhão.
Sim, na comunhão pois nosso divino mestre habita todos os dias no meio de nós no pão eucarístico;
Para ser Ele mesmo e em pessoa ser o alimento de nossas almas.
Por sua graça, Jesus Cristo é a vida de nossa alma: pela Eucaristia, Ele se faz nosso Pão da Vida.
Como nosso corpo não pode viver sem alimentação, assim também a vida de nossa alma tem a necessidade de se alimentar para não desfalecer.
O Santíssimo Sacramento é o alimento necessário aos cristãos:
“Se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o Seu Sangue, não tereis a vida em vós mesmos”.
São as próprias palavras de Nosso Senhor.
Sim! Que grande maravilha do amor do bom Deus!
Não contente somente em vir a nós, em nos abençoar, promete-nos seu Paraíso;
Ele quer ser realmente o alimento de nossas pobres almas!
Sim, alimento, e alimento quotidiano: se quiséssemos poderíamos todos os dias nos nutrir de Deus;
Unir a nossa carne enferma e miserável à verdadeira carne do bom Deus;
Nosso sangue ao verdadeiro Sangue de Jesus;
Nossa pobre alma à alma Santíssima do Salvador; nossa humanidade à Sua humanidade e divindade…!
Nós podemos diariamente nos incorporar desde aqui embaixo na Terra ao divino Filho de Maria, e fazer de nós uma única coisa com Ele.
A comunhão: eis o fim principal da presença de Jesus no meio de nós na Eucaristia.
Ele está no altar nas mãos dos seus sacerdotes;
Ele repousa dia e noite em seu sacrário, com o único objetivo de entrar em nós, de vir repousar em nós e encher-nos de si mesmo.
Tais são, se não falo em erro, as principais razões pelas quais Nosso Senhor, realmente presente na Eucaristia;
Permanece no meio de Sua Igreja, como um Rei em meio aos seus súditos.
Como é mal pago o Amor de Cristo!
Nota-se como tanto amor é pago com tanta ingratidão!
Dir-se-ia em verdade, que não temos fé.
Deveríamos ir todos os dias adorar a Jesus no Seu grande Sacramento e render-lhe todos os nossos deveres de amor, de reconhecimento, de piedade, de oração;
Deveríamos passar com fidelidade a seus pés todo o tempo que perdemos em conversas e frivolidades;
Deveríamos recorrer a Ele por qualquer coisa, por nossas necessidades e por aquelas do mundo inteiro.
Se tivéssemos uma fé viva, faríamos como tantos bons cristãos que encontram meio de comungar frequentemente;
De dar ao Salvador devoção por devoção, amor por amor.
Se tivéssemos uma fé viva, respeitaríamos profundamente nossas Igreja;
Faríamos todos os tipos de sacrifícios para orná-las e torná-las dignas de Jesus Cristo; nada seria poupado…
A nudez vergonhosa de nossas Igrejas, o desnudamento de nossos santuários;
O que é senão a testemunha acusadora de nossa pouca fé?
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Fonte: Livro “A presença real e os Milagres Eucarísticos” de Mons. de Ségur.
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