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O nosso corpo é um vaso de corrupção; é para a morte e para os vermes, tão só…
E, entretanto nós nos aplicamos a satisfazê-lo antes que a enriquecer a nossa alma, que é tão grande que nada se pode imaginar de maior, não, nada, nada.
Porquanto vemos que Deus, premido pelo ardor de sua caridade, não nos quis criar semelhantes aos animais; criou-nos à sua imagem e semelhança, vedes! Oh! Como o homem é grande!
O homem criado por amor não pode viver sem amor: ou ama a Deus, ou se ama e ama o mundo. Vede, meus filhos é a fé que falta. Quando o homem não tem fé, é cego.
Aquele que não vê não conhece; o que não conhece não ama; o que não ama a Deus ama-se a si próprio e ao mesmo tempo ama os seus prazeres. Apega o coração a coisas que passam como fumo.
Não pode conhecer nem a verdade nem bem algum; só pode conhecer a mentira porque não tem a luz; está na névoa.
Se tivesse a luz, veria bem que tudo o que ele ama só lhe pode dar a morte eterna; é um antegozo do inferno.
Fora de Deus, como vedes, meus filhos, nada é sólido, nada, nada! Se é a vida, passa; se é a fortuna, desmorona-se; se é a família, é destruída; se é a reputação, é atacada.
Nós vamos como o vento. Tudo passa com velocidade, tudo se precipita.
Ah! Meu Deus, meu Deus! Como são, pois, para lastimar esses que põem o seu afeto em todas essas coisas!…
Põem-no, porque se amam demasiado; mas não se amam com amor razoável; amam-se com o amor de si mesmos e do mundo, procurando-se e procurando as criaturas mais do que a Deus.
É por isto que nunca estão contentes, nunca tranquilos; estão sempre transtornados.
Vedes, meus filhos, o bom cristão percorre o caminho deste mundo montado num belo carro de triunfo; esse carro é puxado pelos anjos, e é Nosso Senhor quem o conduz;
Ao passo que o pobre pecador é atrelado ao carro da vida, e o demônio, que está na boleia, o força a avançar a largas chicotadas.
Meus filhos, os três atos de fé, de esperança e de caridade encerram toda a felicidade do homem na terra.
Pela fé nós cremos aquilo que Deus nos prometeu, cremos que o havemos de ver um dia, que o possuiremos que estaremos eternamente com ele no Céu.
Pela esperança guardamos o efeito dessas promessas: esperamos que seremos recompensados de todas as nossas boas ações, de todos os nossos bons pensamentos, de todos os nossos bons desejos; pois Deus leva em conta mesmo os bons desejos.
Que mais é preciso para ser feliz?
No Céu, a fé e a esperança não existirão mais; porquanto as névoas que nos obscurecem a razão serão dissipadas.
O nosso espírito terá a inteligência das coisas que lhe são ocultas neste mundo.
Não esperaremos mais nada, visto que teremos tudo. Ninguém espera adquirir um tesouro que possui…
Mas o amor! Oh! Seremos inebriados dele, seremos afogados, perdidos nesse oceano de amor divino, aniquilados nessa imensa caridade do Coração de Jesus!…
Por isto a caridade é um antegozo do Céu.
Se soubéssemos compreendê-la, senti-la, saboreá-la, oh! Como seríamos felizes! O que faz que sejamos infelizes é não amarmos a Deus.
Quando dizemos: “Meu Deus, creio! Creio firmemente, isto é, sem a menor dúvida, sem a menor hesitação…”
Oh! Se nos compenetrássemos destas palavras:
“Creio firmemente que estais presente em toda parte, que me vedes, que estou debaixo dos Vossos olhos, que um dia Vos verei claramente eu próprio, que gozarei de todos os bens que me haveis prometido!..
Meu Deus, espero que me recompenseis de tudo o que eu tiver feito para Vos agradar! Meu Deus, eu Vos amo! Tenho um coração para vos amar!…”
Oh! Como este ato de fé, que é também um ato de amor, bastaria para tudo!…
Se compreendes a ventura que temos de poder amar a Deus, ficaríamos imóveis no êxtase…
Se um príncipe, um imperador, fizesse comparecer perante si um de seus súditos e lhe dissesse:
“Quero fazer a tua felicidade; fica comigo, goza de todos os meus bens;
Mas cuida de não me desagradares em tudo o que for justo”;
Que cuidado, que ardor esse súdito não poria em satisfazer o seu príncipe! Pois bem! Deus faz-nos os mesmos oferecimentos…
E nós não nos preocupamos com a Sua amizade; não fazemos nenhum caso das Suas promessas… Que pena!
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Fonte: Do livro Espírito do Cura D’Ars de Abbé A. monnin.
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