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Outro ponto essencial da doutrina católica deturpado pelos mestres do novo cristianismo é o pecado original.
Uma noção falsa sobre esse dogma de nossa Fé falseia o conceito de Redenção;
Verdade igualmente fundamental em toda a economia da salvação misericordiosamente estabelecida por Deus Nosso Senhor.
Por isso, vamos aqui recordar o que todos sabeis, caríssimos filhos.
O pecado original é o pecado com que todos fomos concebidos;
Com exceção da Virgem Maria, dele isenta pelo especial privilégio da Conceição Imaculada;
E de Nosso Senhor Jesus Cristo, cuja concepção virginal o punha fora de lei do pecado, pecado aliás que vinha Ele destruir no mundo.
O pecado original consiste na ausência da graça santificante, ausência que nos faz inimigos de Deus, incapazes de entrar no Céu.
Nós nascemos com esse pecado porque pertencemos à família de Adão, à progênie do primeiro homem.
Adão foi criado por Deus com a graça divina e ainda adornado de outros dons também gratuitos;
Que tornavam sua natureza de uma excelência superior à que de direito lhe seria devida.
Essa graça santificante e esses dons preternaturais, Adão, segundo os desígnios de Deus, os transmitiria à posteridade, se obedecesse a um mandato divino.
Mas, ele desobedeceu, e como castigo desse pecado perdeu a graça santificante e os demais dons que enalteciam sua natureza.
Tornou-se inimigo de Deus, incapaz de entrar na vida eterna do Paraíso;
E essa situação do primeiro chefe da família humana tornou-se a situação de toda a sua família;
De toda a sua progênie, excetuadas as duas Pessoas que acima lembramos.
Deus, no entanto, na sua infinita bondade, não quis que essa situação permanecesse irreparável.
Enviou um Redentor, capaz de dar-Lhe uma reparação condigna, mesmo acima do que exigiria a justiça.
Esse Redentor é Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, por obra do Espírito Santo, e nascido da Virgem Maria.
Foi Ele, nosso Salvador, que com sua ignominiosa morte de Cruz;
Na qual consumou a obediência ao Pai Celeste, reparando a desobediência do primeiro homem;
Nos remiu, nos resgatou do cativeiro do demônio, nos restituiu a graça santificante;
Tornou-nos novamente capazes da amizade divina, da vida eterna do Paraíso no seio de Deus.
Tudo isso se encontra sintetizado na frase de São Paulo aos romanos:
“Como pelo pecado de um só a condenação se estendeu a todos os homens;
Assim também por um só ato de justiça recebem todos os homens a justificação que dá a vida.
Assim como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores;
Assim pela obediência de um só todos se tornarão justos” (Rom. 5, 18-19).
E para que não houvesse dúvida sobre o sentido das palavras de São Paulo, e sobre a verdade revelada;
O Concílio Tridentino explanou, contra os erros dos protestantes, em um Decreto de sua Sessão V, toda a doutrina católica sobre o pecado original.
Esse decreto consta de uma introdução, cinco cânones e uma consideração final sobre a condição especial de Maria Santíssima nesta matéria.
Nos cânones, o Sacrossanto Concílio ensina que Adão, primeiro homem, pessoal e livremente transgrediu um preceito divino;
E com essa transgressão perdeu a santidade e a justiça em que tinha sido constituído;
E incorreu na ira e indignação de Deus, ficando sujeito à morte e ao cativeiro de demônio (cânon 1);
Que a prevaricação de Adão prejudicou não só a ele, mas a toda a sua descendência;
A qual, por isso mesmo, perdeu a santidade e a justiça recebidas de Deus no seu progenitor;
E mais ainda, que Adão transmite à sua posteridade não somente a morte mas o mesmo pecado que é a morte da alma (cânon 2).
O cânon 3 declara que o pecado original se transmite pela geração e não por imitação, como queriam os protestantes;
E que se apaga não por forças naturais, mas pelos merecimentos de Jesus Cristo que a Igreja aplica;
Quer às crianças como aos adultos, no Sacramento do Batismo;
Os cânones 4 e 5 afirmam que as crianças recém-nascidas devem ser batizadas para que nelas se apague o reato do pecado original;
Porquanto o Batismo apaga a própria culpa e não apenas a risca ou faz com que não seja imputada ao fiel.
Como vedes, caríssimos filhos, é a mesma doutrina que aprendestes nos vossos primeiros anos de infância, ou nas aulas de catecismo ou dos lábios de vossas mães.
Também compreendeis que se trata de ponto essencial.
É o dogma do pecado original que nos faz como que sentir as profundezas do amor com que Deus Nosso Senhor nos amou.
Ele que dá a compreensão do que dizemos com inefável esperança na Santa Missa:
“Deus qui humanam substantiam mirabiliter condidisti et mirabilius reformastis”.
Pois realmente, se há um ato maravilhoso da onipotência divina ao criar os seres do nada;
De longe o supera em maravilha a caridade com a qual Deus vem ao homem pecador para transformá-lo de inimigo em filho adotivo;
Em membro de sua família, conviva de sua mesa!
Destruí o dogma do pecado original, e esvaziareis as alegrias com que a Igreja canta o “Exsultet” na vigília da Ressurreição.
Tudo isso, amados filhos, é verdade, e antigo como a Igreja, e não precisamos gastar tempo para vos convencer.
Não obstante, os mestres do novo cristianismo tentam anular a base de todas essas consolações com seu conceito novo do pecado original.
Para eles, o pecado original não é a desobediência voluntária de Adão, que acarretou para cada um dos seus descendentes a ausência da graça e o estado de pecado.
O trecho de São Paulo aos romanos seria um “gênero literário”, ou seja, uma maneira de expressar um pensamento diverso daquele que as palavras literalmente exprimem.
O pecado original que nos contamina não seria o pecado de Adão, primeiro homem;
Mas o pecado do homem em geral, o pecado do mundo, o pecado da humanidade tomada como um todo!
Cremos que não é preciso insistir mais para se ver como tal doutrina interpreta arbitrariamente a Sagrada Escritura;
Não faz o menor caso do Magistério infalível;
Anula o caráter moral que há na Redenção;
E prepara uma concepção gnóstica do Cristianismo.
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Fonte: fratresinunum.com
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