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Primeiro passo do “querer bem” e da amizade: posição contemplativa e afinidade de alma e não apenas o ser útil.
Há gente que pensa que querer bem a alguém não é, essencialmente;
O ter prazer de estar com esse alguém, mas que consiste quase exclusivamente em saber ser-lhe útil.
Segundo essa mentalidade, errada, quem é útil, a gente quer; quem não é útil, a gente não quer.
Sem dúvida deve-se ser útil àqueles a quem se quer.
Mas o querer bem é antes de tudo a gente ter uma posição contemplativa e de afinidade de alma em relação aos outros.
De maneira que a pessoa gosta de ter o outro junto de si pelo gosto de contemplá-lo.
Este é o primeiro passo do querer bem e da amizade.
Amar o próximo por amor de Deus é propriamente isto.
Mesmo porque, neste contemplar os outros, não entram aqueles balanços frios dos defeitos.
Por contraste com as qualidades a gente vê os defeitos.
Mas, na hora do convívio o defeito a gente põe entre parênteses e cuida das qualidades; a gente convive com as qualidades, e não com os defeitos!
Pois, o melhor modo de combater os defeitos (dos outros mas inclusive da gente mesmo) é conviver com as qualidades!
Uma grei especial: as pessoas “amigas de Deus”
Há certas pessoas que recebem da Providência, por um aspecto ou por outro, o qualificativo de “amigas de Deus”.
O que é ser “amigo de Deus”? É a quem Deus quer, ou é aquele que quer a Deus?
Os dois aspectos se fundem porque só quer a Deus aquele a quem Deus quis.
Amar a Deus é uma graça vinda de Deus.
Mas, merece o nome de “amigo de Deus” aquele a quem Deus quis, e que disse “sim” ao chamado de Deus (à graça).
Esse é o “amigo de Deus”.
Conceito de “amigo”, do ponto de vista terreno – As quatro características
Agora, o que nós chamamos de “amigo”, na expressão corrente da palavra?
“Amigo”, no sentido corrente da palavra, é quem:
A – Antes de tudo, é afim conosco.
B – Em segundo lugar, no qual nós conhecemos esta afinidade e que a conhece em nós (ou seja, há reciprocidades);
C – Em terceiro lugar, que se compraz, por isso, conosco, como nós com ele.
D – Em quarto lugar, que, por causa disso, sacrifica-se por nós, a ponto de lutar por nós e de atender nossos interesses contra nossos adversários. E nós por ele…
Esta é a definição de “amigo” do ponto de vista terreno.
“Amizade com Deus”:
Amor, serviço e luta por Deus, com base na percepção da afinidade e do por onde especificamente se é um “espelho” de Deus para os outros.
O “amigo de Deus”, o que é, então?
Olhando não do lado de Deus, mas do lado do homem;
“Amigo de Deus” é aquele que, porque correspondeu às graças, tem afinidades com Deus, conhece essas afinidades e nelas ama a Deus.
Não é amar a Deus só teoricamente.
É perceber por onde, e como, ele é afim com Deus.
Ou seja, no quê, e como, ele espelha a Deus (reflete ou espelha as virtudes).
Além de amar a Deus enquanto espelhado nas criaturas, olha a si mesmo enquanto um “espelho” de Deus e diz: “Oh meu Deus, como eu Vos adoro!”.
Isso não é egoísmo! Pelo contrário, é amor à própria virtude.
Se alguém tem dúvidas sobre o em que é análogo a Deus, olhe para suas virtudes.
Ou seja, considere os vários aspectos de Deus, da Igreja, de Nossa Senhora, de Nosso Senhor Jesus Cristo, que lhe causam entusiasmo.
Considerando em si esses aspectos, a pessoa se sente toda em ordem.
E, diante do mal, ela se sente – para usar a comparação própria à Nossa Senhora – como um exército pronto para batalha.
Portanto, é no amor àquilo (vários aspectos de Nosso Senhor, de Nossa Senhora e da Santa Igreja);
E na disposição de rejeitar e combater contra tudo que vai contra aquilo, é que uma pessoa se parece com Deus.
Dessa forma Deus lhe dá uma luz especial para conhecer no que é amigo dela e no que espera que ela seja o seu amigo.
Ser fiel às graças recebidas: uma forma de ser “amigo de Deus”

Nessas condições, sendo fiel aos bons movimentos de alma (ou seja, às graças recebidas), a pessoa procede como amiga de Deus, porque:
– Primeiro, conhece a Deus, antes de tudo pela tradicional Doutrina Católica, mas, de um modo específico, por meio desses bons movimentos de alma (boas inspirações recebidas).
– Em segundo lugar, porque ela tem alegria no convívio com Deus. É a alegria que dá a prática do bem e a luta contra o mal.
É, nas devidas proporções, como o convívio com o Santíssimo Sacramento.
– Em terceiro lugar, com esse prazer do convívio com a graça, vem o desejo de servir, porque é um movimento natural.
Conhecendo alguém a quem a gente presta culto de adoração (Deus Nosso Senhor) ou;
Conforme o caso, de hiperdulia (Nossa Senhora), o movimento da retidão de alma é a pergunta: “O que posso fazer por Vós?”.
A gente quer dar, quer entregar, quer fazer alguma coisa. É natural.
Como da “amizade de Deus” nasce a “luta por Deus”
Às vezes nós nem devemos perguntar.
Porque, quando vemos uma necessidade evidente daqueles a quem nós queremos bem (ou seja, é nosso amigo);
Nós nem perguntamos se estão precisando: corremos e fazemos…
E quando os vemos combatidos, nós vamos à luta em defesa deles.
Não perguntamos: “Quer que eu dê nele?”
Não.
Está injuriando, não tem nada o que perguntar: é começar…
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Fonte: Marcos Aurélio Vieira (Considerações feitas com base em ensinamentos do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira)
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