
Continuação do post: “Pequeno, porém um grande Gigante de alma” – episódios da vida de São Domingos Sávio (Parte II)
Continuação dos Fatos da vida de São Domingos Sávio narrados por São João Bosco:
Domínio de si mesmo
Quem reparasse na compostura exterior de Domingos Sávio, achava-lhe tanta naturalidade, que pensava tê-lo Nosso Senhor criado assim mesmo.
Mas os que o conheceram de perto, ou tiveram a responsabilidade da sua educação, podem asseverar que havia nisso grande esforço humano coadjuvado pela graça de Deus.
A vivacidade do seu olhar obrigava-o a não pequeno esforço, dada a sua firme resolução de dominá-la. Um dia, confiou a um amigo:
“A princípio, quando me decidi a dominar completamente os meus olhares, tive de suportar não pequena fadiga, e até, por isso, sofri fortes dores de cabeça”.
Com efeito, era tão reservado, que ninguém, dos que o conheceram, se lembra de tê-lo visto olhar para qualquer coisa que excedesse os limites da rigorosa modéstia.
“Os olhos – dizia ele – são duas janelas. Pelas janelas, passa tudo o que se deixa passar. Por estas janelas, tanto podemos deixar passar um anjo como um demônio, e permitir tanto a um como a outro que se aposse do
nosso coração”.
Certo dia, um dos seus companheiros trouxe inadvertidamente para a escola uma revista e que havia algumas figuras pouco sérias e irreligiosas. Um grupo de rapazes rodeou-o para ver aquelas gravuras que causariam asco, mesmo aos infiéis e pagãos. Domingos também
se aproximou.
Quando viu, porém, do que se tratava, foi surpreendido. Em seguida, com um sorriso de ironia, deitou-lhe a mão e rasgou-a em mil bocados. Os outros rapazes, atônitos, entreolharam-se mortificados, sem pestanejar.
Domingos, então, disse-lhes:
-Pobres de nós! Nosso Senhor deu-nos os olhos para contemplar as belezas de tudo o que Ele criou, e vós servir-vos deles para olhar tais indecências, inventadas pela malícia dos homens para corromper as almas?
Esquecestes o que tantas vezes vos foi ensinado? O Salvador diz-nos que com um olhar inconveniente manchamos as nossas almas, e vós a deliciar-vos com os olhos postos em coisas
tão vergonhosas?!
– Nós, respondeu um deles, fazíamos por distração.
– Sim, sim, por distração; no entanto, por distração, ide-vos preparando para o inferno. Riríeis no inferno se lá caísseis?
– Mas nós- retorquiu outro – não víamos grande malícia naquelas gravuras.
– Pior ainda. Não ver a maldade em semelhantes indecências é sinal de que já estais habituados a contemplá-las. Mas o hábito não desculpa, antes, pelo contrário, torna-vos mais culpados.
Ó Job! Ó Job! Tu velho, mas eras um santo; sofrias de uma doença, que te obrigava a viver deitado sobre um monturo de imundície; e, contudo, fizeste um pacto com os teus olhos para que não olhassem, nem de leve, coisas inconvenientes!
A estas palavras, todos se calaram e ninguém se atreveu a censurá-lo nem lhe fazer
qualquer observação.
À modéstia nos olhos aliava Domingos uma grande reserva no falar.
Quando alguém falava, ele calava-se; por várias vezes truncou uma expressão para dar aos outros liberdade de se expandirem. Os seus mestres foram unânimes em asseverar que nunca tiveram motivo para repreendê-lo, tão modelar foi sempre o seu procedimento no estudo, na aula, na igreja e em toda a parte.
Até nas próprias ocasiões em que lhe fizessem qualquer injúria, sabia moderar, mais do que nunca, a língua e o seu temperamento.
Um dia, preveniu um companheiro de um mau hábito. Este, em vez de receber de bom grado a observação, zangou-se. Cobriu-o de vitupérios, e depois investiu contra ele a socos e a pontapés.
Domingos teria podido fazer valer as suas razões com os fatos, pois, era mais velho e tinha mais força. Mas não quis senão a vingança dos cristãos. Ficou com o rosto ruborizado, mas refreou o ímpeto de ira e limitou-se a dizer a seguintes palavras:
“Perdôo-te esta ofensa. Não trates os outros desta maneira”.
* * *
(Extraído do jornal: “O Desbravador” – Maio de 2001)
Fonte: Blog “O Segredo do Rosário”